terça-feira, 11 de maio de 2010

Coisas que o RPG me ensinou

Capa do D&D editado pela Grow em 1991 (se não me engano)


Quando eu tinha 10 anos, um vizinho meu, Raphael (também com 10 anos), tinha um amigo que já estava na faculdade e ele achou um livro na biblioteca da UERJ com o título Dungeons & Dragons. O ano era 1990 e eu não tinha ideia de como esses nomes em inglês afetariam meu caminhar.
Dungeons & Dragons (que vou chamar de D&D para facilitar) é o primeiro RPG lançado. RPG significa Role Playing Game ou Jogos de Interpretação. É como se fosse um teatro, onde cada jogador interpreta um personagem e há um narrador que vai lançando os desafios para os jogadores. A diferença com o teatro é que não há nada escrito de antemão. Tudo é na base do improviso.
Bom, começamos a jogar D&D e nunca mais paramos. Claro que sempre houveram alguns tempos parados, mas nunca deixamos de pensar sobre ou pesquisar sobre o assunto.
Muitos acham que o RPG é coisa do demônio, de vagabundos ou nerds (aliás, eu adoro ser nerd, mas isso é assunto para outro post). Isso é a voz da ignorância, de pessoas que nunca tentaram conhecer o jogo para criticar.
Os jogos de RPG podem ser ambientados na era medieval (o tipo mais jogado), na era atual, no futuro, no espaço, com super-heróis, como personagens de quadrinhos, tudo pode virar RPG.
UM RPG é como uma brincadeira de polícia e ladrão. A diferença é que ao invés da discussão para saber se um acertou o outro, quem dizem se as ações aconteceram ou não são os dados. RPG é pura estatística.
E como o RPG me ajudou (e muito). Eu sou um cara muito tímido e no nosso grupo, Henrique, Raphael e Edvan (meu irmão), ninguém tinha paciência de ler os livros para conhecer as regras e montar as histórias. Então, com 10 anos eu comecei a ler os livros. Detalhe, os livros eram todos em INGLÊS. Então, comprei um dicionário e ia traduzindo as páginas para entender as regras.
Com esse grande incentivo, do jogo, aprendi inglês e hoje sou fluente no idioma, tanto escrito como falado.
Ao ter que criar as histórias, tive que narrar os fatos para os outros e isso me ajudou um pouco com a timidez.
Tive que começar a escrever as histórias, pois o jogo segue em uma campanha, que seria semelhante a uma novela. Cada dia um capítulo diferente, mas com os mesmos personagens. Com isso, minha escrita se aprimorou bastante e por ler muito, meu vocabulário, tanto português como inglês, aumentou bastante.
Para criar as histórias, tínhamos que ler muito sobre muitos assuntos e graças a isso, tenho o conhecimento de muitos tópicos que muitas pessoas desconhecem e a gente acaba aprendendo um pouquinho de tudo, o que é sempre interessante no nosso mundo de hoje.
Como nos jogos de RPG, os diálogos são improvisados, aprendi a pensar rápido para solucionar os problemas ou escapar da guarda real e manter o personagem vivo. Com isso, ganhei jogo de cintura para resolver meus problemas pessoais e criar respostas instantâneas para perguntas que me pegam desprevenido.
O RPG é um jogo coletivo, onde todos ganham. Não há competição entre os jogadores, pois todos fazem parte do mesmo grupo que só pode chegar ao final da história se agirem em conjunto, somando as habilidades diferentes de cada um. Isso me ajudou a trabalhar em equipe e valorizar o que os outros tem de melhor, pois só somando nossas habilidades/ideias podemos chegar na melhor solução dos problemas.
E por ser um jogo coletivo, você faz muitos amigos, pois os encontros costumam ser rotineiros (1x semana, 2x mes, todo dia) e sempre são divertidos. Muitos que jogavam RPG comigo continuam amigos até hoje, sendo que alguns viraram padrinhos de casamento e do meu filho.

Claro que, como qualquer coisa, pessoas desequilibradas fizeram uso do RPG para justificar atos bárbaros e a nossa imprensa somente mostra os pontos negativos das coisas, pois é o que vende jornal. Mas temos que ter senso crítico para ver a notícia e pesquisar sobre o assunto e ver os dois lados da moeda. Nâo é porque no RPG passamos o dia matando orcs, goblins, zumbis e dragôes que vamos matar uma pessoa que não gostamos.

O RPG pra mim foi e continua sendo um meio de vida. Me ensinou muita coisa e com certeza, é só o Dudu crescer que vou ensiná-lo a como se divertir e aprender ao mesmo tempo.


Exemplo dos dados utilizados nos jogos de RPG

2 comentários:

  1. Sua trajetória é parecida com a minha no sentido da curiosidade em desvendar o que aqueles livros loucos traziam escritos. Me lembro da mística daqueles dias nos quais sonhava com mundos loucos e mágicos.

    Vejo hoje que continuamos sonhando! São mundos loucos e mágicos e espero, como contador de histórias, poder fazer meus jogadores sonharem um pouco mais!

    Muito bom seu post!

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  2. Isso tudo é verdade.
    Concordo em 100%.
    Com o RPG aprendemos a pensar rápido, sermos criativos, lidar com situações difícieis.
    E hoje, depois de "burro velho" trouxemos isso pra vida real, pro nosso cotidiano.
    Sinto falta dessa época, infelizmente temos nossas obrigações, mas em breve montaremos um novo grupo.

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