terça-feira, 11 de maio de 2010

Vida Offshore

Essa é a minha casa por 14 dias. Plataforma de Polvo A - Devon

O ano era 2007. 19 de março de 2007 para ser exato. Acabara de ser contratado por uma empresa americana para trabalhar como especialista de fluidos de perfuração. Um nome bonito para uma profissão bastante interessante e importante.
Fui para Houston, por 2 meses, fazer o curso básico para aprender meu novo ofício. Foi uma viagem bastante interessante e rica, como aprendizado de vida e profissional.
Após esses 2 meses, eu e meus novos companheiros (8 no total) fomos levados para Macaé para começarmos alguns treinamentos específicos para o mercado brasileiro. Passamos mais 2 meses em Macaé aprendendo um pouco sobre o braço brasileiro da empresa, pessoas, chefes, o que fosse necessário para começarmos a embarcar.
Embarcar... não sabia o significado disso até pisar numa plataforma pela primeira vez... é um mundo completamente novo, que não para nunca, 24 horas 7 dias da semana. Um espaço pequeno onde convivem 100, 150 pessoas, dos mais variados tipos, tamanhos, cores, crenças, linguas e profissões.
Nos 2 primeiros dias, eu quis me jogar no mar e voltar nadando, pois é um ambiente estressante, confuso para os novatos, muita coisa para aprender, mas todos acham que você é um expert.
No entanto, passaram-se 14 dias e voltei para casa. Que sensação maravilhosa. O nosso humor muda, a gente fica mais leve. A expectativa de entrar em casa novamente é enorme e poder beijar sua esposa, seu filho é algo impagável. Dinheiro nenhum do mundo vale esse momento. Infelizmente, esse momento se repete 1 vez por mês, pois 14 dias depois, temos que voltar para o trabalho, pois acabou o descanso.
Para podermos embarcar, temos que fazer um curso chamado HUET (Helicopter Underwater Escape Training - Treinamento de Escape de Helicoptero Submerso), onde nos são mostrados vídeos de vários acidentes de helicóptero, o que nos deixa bastante "felizes" e com mais vontade de embarcar.
Algumas viagens de helicóptero são curtas (30min) outras são bem longas (2h30min) e, para mim, as piores horas são a decolagem e o pouso. Principalmente o pouso na plataforma, onde venta muito, balança e o espaço para o piloto pousar é reduzido. Não há margem para erros.
Saímos do helicóptero e alguns somente deixam suas malas nos camarotes (como chamamos nossos quartos) e já colocam seus macacões e vão pra área (como chamamos o local de trabalho).
São jornadas de 12 horas de trabalho ininterrupto, todos os dias, sem descanso. Nada de feriado, fim de semana, Natal ou reveillon. NÃO PARA NUNCA!
Esqueça aniversários, páscoas, dias das mães, natais, tudo. Você pode passar embarcado, como aconteceu comigo em 2009, onde a única data festiva que passei em casa foi o reveillon e o dia dos pais.
Mas, a vida offshore também tem suas compensações. Primeiro de tudo, são os dias de folga. Não ter que acordar cedo numa 2a feira chuvosa, onde você sabe que o transito estará um inferno ou sabendo que não há reunião, ninguem no escritório te esperando. Você pode se dedicar a seus hobbies (coisa MUITO importante para manter a sanidade), viajar em qualquer época do ano (desde que sua esposa não seja professora e só possa viajar em alta temporada), ficar acordado até altas horas, ficar bêbado na 3a feira. E além disso, o salário é bem acima da média dos que trabalham em terra.

Muita gente não sabe como é a vida nas plataformas e o programa GLOBO MAR mostrou com maestria um pouco dos nossos problemas a bordo. O link para os vídeos do programa estão aqui. É um lugar perigoso e muitas pessoas morrem por ano em acidentes nesses locais.
Acidentes esses que, além de serem fatais, podem desencadear enormes prejuízos financeiros e ecológicos, vide o recente acidente no Golfo do México. Poucos sabem, mas nessa plataforma morreram 2 pessoas da minha empresa. É um sentimento muito ruim, pois poderia ser meu nome naquele relatório final e eu teria virado estatística e minha família continuaria sem mim. Fazemos sacrifícios para darmos o melhor aos nossos e o perigo está sempre rondando. Temos que manter nossa fé e estar sempre alerta para que nada saia do planejado e que possamos voltar inteiros, como saímos, para nossas casas. E descansar para nossa próxima quinzena.

A vida offshore é perigosa e tem horas que dá vontade de sair nadando, mas pesando os prós e os contras, vale a pena!

2 comentários:

  1. Bom dia amigo, se importa de passar seu email? Grato desde já!

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    1. Goste do seu comentário meu amigo,mais faltou falar das amizades que exite em alto mar.

      Primitivo Duyprath

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